A mesa, nua e crua - A Cevicheria, Lisboa



Confesso que não fiquei lá muito animada quando me disseram o nome do restaurante. Esbarrei em tantas versões banais mundo afora, que concluí que "cevicheria" é a nova “temakeria”: uma ideia original incrível, que perde qualidade na mesma velocidade com que se reproduz. É um tal de acidez exagerada aqui e ingredientes demais ali, que já testemunhei uma proeza que julgava impossível: o afogamento - em excessos - de um peixe.

Felizmente, há exceções que fazem jus ao nome de batismo. A CEVICHERIA de Lisboa, merecedora da redundância, é uma delícia de lugar que presta bela homenagem aos frutos do mar portugueses - sempre muito frescos - em preparações delicadas e equilibradas.


O salão comporta umas 30 pessoas, “urubuzadas” por outras tantas através da janelinha lateral do bar.

Com sorte, sua vaga aparece no balcão. Tomás, à nossa frente, era tão gentil quanto competente e foi parte fundamental da refeição. Com paciência, explicava cada prato do menu degustação à gulosa que alternava garfadas, notas e suspiros.



A abertura já foi linda, como uma poesia de Fernando Pessoa; tão equilibrada que “nada teu exagera ou exclui”: pérolas de tapioca em leche de tigre e camarão do Algarve com gaspacho.


Segui com ceviche de corvina em leche de tigre, alga wakame, cebola roxa e batata doce, em purê e em chips. Perfeito.


O lavagante “pessoa física” e em purê, com abacate, ovas de salmão. purê de batata e tinta de choco.


Corvina com Mexilhão, camarão, berbigão, quinoa, algas de tosaka, espuma de ostras e crustáceos. Excelente.


Como não só de mar se faz o restaurante, um delicioso croquete de pato. Com o confit em que a ave é feita, se faz o caldo que rega o arroz com coentros e espinafre, batizado (pois) de “arroz de pato sem pato”. Adorei.


E o menu degustação de tamanho perfeito (6 pratos) se encerrou com o “Chocolate das Américas”, feito com cacau do México e de Cuba desdobrado em telha, brownie, “terra” e mousse, com delicados brotos de aipo que animavam o conjunto.

A refeição impecável me fez voltar à CEVICHERIA quatro meses depois, já convencida a abandonar meu preconceito com casas de mesmo tema. Na saída, acho que ouvi as paredes sussurrarem: “Gostou, não é? Vingança é um prato que se come frio”.

A CEVICHERIA
www.chefkiko.com
R. Dom Pedro V 129, Lisboa, Portugal
+351 21 803 8815
Horário:
Aberta todos os dias, das 12:30hs à meia noite.




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Cristiana Beltrão

Esse blog surgiu da necessidade de organizar dicas de restaurantes, paradinhas, bares, mercados e bebidas ao redor do mundo para os amigos. De quebra, acabei contribuindo para jornais e revistas Brasil afora. Espero que gostem.