Hipster melhor, quem hipster por último - Lyle's, Londres.



O termo hipster foi cunhado nos anos 40, especialmente associado a um grupo de jovens brancos de classe média que gostava do jazz sedutor tocado em redutos negros, comportamento bastante transgressor à época. Com o passar do tempo, a palavra passou a descrever tribos urbanas que vão contra o gosto corrente; uma espécie de subcultura contemporânea, ligada às artes, música alternativa e filmes independentes.

Pois bem... os hipsters londrinos adoram Shoreditch, bairro ícone da turma contestadora que, obviamente, recebe opiniões contrárias bem extremadas. Há quem diga que os adeptos têm mais atitude do que cultura de fato; que é quase obrigatório ter a barba desgovernada em voga; que se autoproclaman “verdes” e “éticos”, mas somente até a página dois, e que estão muito menos preocupados com arte do que com o skinny jeans da vez.

Acho curioso como o mundo adora um rótulo e atesto que, independentemente do que o bairro simboliza para alguns, adorei o que vi. Não sei se o rótulo é forçado ou se o “hipster” londrino é meio café com leite aos nossos olhos. Toda aquela contra-cultura vem embalada num ambiente interessante, organizado e civilizado, com galerias de arte, pinturas pelas paredes, microcervejarias e “cafés-atitude” acontecendo em ruas limpinhas, de prédios lindos, por quais passam os adoráveis ônibus de dois andares.

E lá estava eu, de frente para um interessantíssimo shopping “pop-up” que funciona dentro de um container de navio, prestes a fazer uma das melhores refeições da última temporada londrina.



Com um menu fixo – felizmente curto – que muda diariamente, o LYLE`S funciona num ambiente industrial e arejado, com mesas e cadeiras claras e uma cozinha aberta como um palco.


De lá vi sair coisas lindas, a começar pelos crocantes de enguia com morcela, e ainda as folhas verdes amargas que mergulhei na espuma etérea de anchovas com cubos de pão, que elevaram imediatamente a minha expectativa quanto às etapas seguintes.


Como pontos altos, posso citar os calçots, típicos da Catalunha - talos de cebola cultivados de forma a não permitir que o bulbo cresça, o que lhes empresta um sabor intenso – que estavam espetaculares com os ovos densos de gema alaranjada das galinhas Burford Brown, e o crocante de trigo sarraceno.


E ainda o belo naco de filé de gado Dexter, do Sul da Inglaterra, a raça preferida do chef James Lowe (que, devo dizer, não tinha barba desgovernada, e sim, uma adorável estampa de bom moço), que depois depois de maturar por 12 semanas, derretendo na boca, deve ter maturando outras doze nos meus quadris - e não me arrependo. Vinha com lascas de alchofra de Jerusalém e picles de nozes, coisa que nunca vi, e adorei.

E por falar em picles, todas as conservas, pães e embutidos são feitos na casa, como também a geléia de maçãs e tâmaras, com crocantes de funcho que acompanhava os queijos divinos.


Um dos melhores “limpa bocas” que já vi veio na forma do disco de anis com coalhada de maçã com vinagreira – ingrediente que observei em quase todos os cardápios da cidade.


E além das sobremesas, vinhos e drinks deliciosos, cuja omissão me dá certa culpa, a brasileira aqui fechou a refeição londrina com um delicioso café natural etíope torrado em Munich. As Nações Unidas salvaram o dia e eu saí porta afora gritando: hipster, hipster, hooray!

LYLE`S
www.lyleslondon.com
Tea Building, 56, Shoreditch High Street - London
tel. 44.20.3019.2468
de segunda a sexta-feira, das 8hs às 23hs
sábados, das 12hs às 23hs.



0 comentários:

Postar um comentário

 

Cristiana Beltrão

Esse blog surgiu da necessidade de organizar dicas de restaurantes, paradinhas, bares, mercados e bebidas ao redor do mundo para os amigos. De quebra, acabei contribuindo para jornais e revistas Brasil afora. Espero que gostem.